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terça-feira, 3 de abril de 2012

Apenas um prefeito

Impecável o artigo de Vladimir Safatle na Folha de São Paulo desta terça-feira (3).

"A pior maldição de São Paulo é seu gigantismo. Por mobilizar um dos maiores orçamento da União, administrar a cidade parece não ser mais algo que tenha valor em si.


Ao contrário, São Paulo é apenas uma passagem, seja para voos mais altos, como a Presidência da República, seja para a utilização de seu peso político na construção de novos partidos, seja para a luta pela construção de hegemonias partidárias.


Há tempos a população paulistana não tem um prefeito, apenas um prefeito -alguém que queira simplesmente administrar a cidade e debruçar-se não sobre as taxas de juros do Banco Central ou dos grandes problemas do país, mas sobre o trânsito infernal da avenida Brasil ou a falta de bibliotecas na periferia."



E não é que é verdade?

Ser prefeito de São Paulo se tornou alavanca política. Assim, ao ocupar o cargo, não se pensa nos problemas da cidade. Pensa-se nas relações de influência, no poder, na emissão de opinião, no cargo e na visibilidade que a direção de Sampa lhe dá.

Foi assim com Maluf, com Pitta, foi assim com Kassab, o prefeito das proibições, como dizem por aí. Enquanto isso, continuamos presos no trânsito parado, trancafiados em nossas casas enquanto o rio sobe, enfurnados em shopping centers porque a cidade abre concessões para esses espaços. E falta espaço.

Safatle também provoca quanto à falta de projetos paulistanos inovadores de planejamento urbano, pois simplesmente não há qualquer planejamento urbano. A ciclofaixa, uma das poucas iniciativas com destaque médio, é apenas um pedaço de doce oferecido aos ativistas, é lazer, não é rotina, conceito, ideia. É domingo, enquanto São Paulo é paulsitana de segunda a sexta-feira, no horário comercial.

Ah, São Paulo... você precisa mesmo é de um prefeito.

Não é montagem, essa foto é REAL




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Lembrando que, em outubro, a gente deve escolher um prefeito.
Há candidatos para prefeito?

terça-feira, 6 de março de 2012

Sem caminhões na Marginal, sem gasolina nos postos

A gestão Kassab mostrou mais uma vez dar preferência ao transporte público individual em detrimento do desenvolvimento de soluções mais complexas e inteligentes para o difícil problema de mobilidade urbana na capital paulista. Nesta segunda-feira, 5, os caminhões foram proibidos de circular na Marginal Tietê nos dias úteis entre as 5h e 9h, e das 17h às 22h. Aos sábados, a proibição acontece apenas no período da manhã, das 10h às 14h.

A intenção é aumentar o fluxo de carros e a fluidez do trânsito. O problema começou quando os caminhoneiros decidiram interromper a entrega de combustíveis a cerca de 2 mil postos de abastecimento na cidade, em protesto ás nove horas de impedimento.

Foto: Jorge Araújo/Folhapress

A prova de que a medida municipal não teve o objetivo traçado foram os 159 km de congestionamento às 11h desta terça, 6, recorde da cidade no ano, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Em meio às reclamações das vias paralisadas, algumas queixas de motoristas que já sentiam o aumento das filas dos postos de gasolina ou notavam as bombas de etanol, gasolina e álcool secas em alguns estabelecimentos.

Não consigo entender qual a lógica da gestão paulistana ao proibir caminhões na marginal. Teoricamente, veículos pesados atrapalham muito mais o trânsito em vias estreitas e de baixa velocidade, em bairros, não em vias expressas com mais de três faixas. Pois caminhões têm velocidade reduzida, dificultam ultrapassagens, estacionam em lugares movimentados para abastecer lojistas, entregando ou recebendo mercadorias. Claro, não podemos exterminá-los, é o trabalho de seus condutores é necessário à cidade como um todo. Caminhão na Marginal não atrapalha... faz parte do [da falta de] planejamento urbano da cidade, já que tanto a Tietê como a Pinheiros são estratégicas para chegar a qualquer região da cidade.

O carro, cada vez menos utilizado para caronas e transporte de famílias, tornou-se veículos de um motorista em locomoção ao trabalho - especialmente nos horários de restrição. O espaço é ocupado apenas por um corpo à frente do volante.

Em 2009, a mesma gestão proibiu a circulação de ônibus fretados em 70 metros quadrados da cidade. A Zona Máxima de Restrição à Circulação de Fretados (ZMRF) engloba áreas carentes de transporte público de massa suficientes como abundância de linhas de trens e metrô, entre elas, a região da Berrini, Moema, Morumbi, entre outras. A justificativa, novamente, foi melhorar a fluidez do trânsito com menos ônibus parados para desembarcar ou embarcar passageiros.

Qual a lógica de retirar das ruas pessoas que prestam serviço a toda uma sociedade, que encaram jornadas excessivas em prol de um salário muitas vezes insuficiente? Bem sabemos os prazos malucos que fornecedores exigem, obrigando os caminhoneiros a dirigirem por horas sem paradas para descanso, muitas vezes impactados pelo sono e estimulantes capazes de prejudicar, inclusive, sua capacidade de responder a estímulos necessários para uma direção completamente segura?

Desta vez, com a pressão [muito bem pensada, aliás] da categoria, a prefeitura tem um grande abacaxi nas mãos. Como resolver?

Pena mesmo que os usuários de fretados não conseguiram encontrar um meio de protesto de impacto semelhante. Lotar vagões, em especial da linha 4-amarela do metrô e da linha esmeralda da CPTM, não traz eco suficiente para engravatados no conforto de seus sedãs lacrados e climatizados com ar condicionado. Infelizmente.

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Opinião de usuária cotidiana de metrô, ônibus, trem e também motorista.
Ou seja - me espremo nos vagões e arranco meus cabelos em frente ao volante.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

458 aniversários

Se São Paulo fosse assoprar 458 velinhas de seu bolo, não teria fôlego. O pulmão destruído pela fumaça proveniente da imensa frota de automóveis prejudicaria seu desempenho.

E há motivos para comemorar? Em uma cidade chorona, copiosamente como a água de tempestades desta época do ano, por tantas mazelas que ferem sua população sofrida? Em uma metrópole espalhada em quatro zonas, norte, sul, leste e oeste, mas concentrada em duas, oeste e sul? Que agride sua diversidade, ora conhecida como a mais peculiar e democrática do Brasil? Acumulando barracos e trapos nas fendas de concreto dentre as avenidas menos e mais movimentadas da cidade?

Sim, há motivos para celebrar.

A cidade ainda explode de alegria, com fogos estourando no céu, quando é gol do Corinthians.
Os amantes ainda passeiam de mãos dadas no parque do Ibirapuera.
As amigas ainda conseguem contar todas as fofocas do final de semana no longo trajeto de trem.
A senhora ainda consegue andar de graça no precário transporte urbano com sua carteira do idoso.
O metroviário ainda tem orgulho de trabalhar no meio de transporte insuficiente, mas o mais invejado do país.
Os amigos ainda se aglomeram nas portas de inferninhos na rua augusta.
Os trabalhadores ainda agradecem pela jornada de trabalho garantir o sustento diário.
A menina ainda canta alto ao volante, presa no congestionamento.

A cidade ainda é palco de muita vida.

Parabéns, São Paulo. Desejo-lhe muito amor neste ano por vir.


Esta foto diz muito daqui para mim. Eu, nascida no interior, crescida aqui. Lydia, vinda de Rio Branco, no Acre, trabalha e estuda aqui. Laura, também do Acre, de passagem. E Maju, paulistana.
No asfalto, na avenida símbolo do caos empresarial. De madrugada, pois a cidade nunca dorme.

São Paulo é feita, em grande parte, pelos que vem de fora, 24 horas, todo santo dia. E, mesmo com tantos problemas, todos encontram maneiras de sorrir.






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Mas bem que podia haver mais ação e solução
por parte dos governantes e cidadãos daqui

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Vida de zumbis

A desocupação da Cracolândia, como é conhecida a região central de São Paulo conhecida por abrigar centenas de usuários de crack, é uma ação conjunta do governo do Estado e da Polícia Militar. Ontem, a Rota, grupo tático especial do órgão policial, entrou na ação.

A ação é parte do projeto Nova Luz, que revitaliza uma importante área cultural paulistana tomada pela marginalidade, dependência química e crime organizado. Nela, encontram-se pontos turísticos como a Estação da Luz, a Estação Júlio Prestes e a Sala São Paulo – principal palco de concertos, óperas e apresentações de música erudita da cidade. Tudo que não combina com marginalidade, dependência química e crime organizado.

As imagens do lugar, para quem não conhece, são chocantes. Caminhar por ali é semelhante ao cenário de seriados da moda, como The Walking Dead. Dependentes químicos da droga vagam a esmo vestindo trapos, com olhar vidrado. Muitos deles lavam vidros de carros no farol como maneira de abocanhar alguma grana para comprar pedras.


Imagem 1, da Folha de São Paulo, retrata uma ação policial na segunda-feira (9), na rua Aurora x rua Guaianases. Imagem 2, do Estadão, retrata o local em um dia qualquer (2011)

A ação, dividida em três fases, promete o policiamento, assistência social e manutenção da área. Tem sido, entretanto, frustrada. Não é possível simplificar algo tão complexo e profundo na nossa sociedade – o vício – em três passos, como um manual para o sucesso. Um, dois, três e pronto, o problema está resolvido.

Não há estrutura para assistência social suficiente para atender a tanta gente envolvida com o vício do crack. O que muitas pessoas não entendem, especialmente aquelas que expressam opiniões inflamadas [tem que descer o cacete todos estes vagabundos mesmo!], é a complexidade química que o vício desta droga causa no sistema nervoso do indivíduo ao ponto de ele largar tudo para viver uma vida de zumbi. Vagando nas esquinas, a condições precárias, tudo para ter o prazer momentâneo que o crack proporciona. Se a pessoa se submete a estas condições, não vai sair disso de maneira tão simples, em três passos, como propõe a ação da Cracolândia.

Cracolândia, em letras maiúsculas, porque ela expressa o problema da sociedade e é um retrato da disparidade de São Paulo. O espaço convive com o problema social ao lado da “alta sociedade” que frequenta os pontos da região. O real problema é que o problema social é de saúde, e é tão grande que tomou o espaço. Não deveria ser este o sinal de alerta que prova que São Paulo está com um caso tão grave, que não será eliminado de uma hora para outra? Esta alta sociedade que também sofre de outra coisa grave – a cegueira social para a disparidade que está a sua frente, ali, escancarada.

Moradores de Higienópolis, bairro vizinho à Cracolândia, se queixaram de viciados que “subiram” e tomaram as ruas nobres e arborizadas, expulsos de seu habitat natural. Temem a violência. Estavam acostumados com a cegueira social da vizinhança perfeita, uma ilha de riqueza no centro da cidade.

É hora de abrir os olhos.

Mais assustador que a vida de zumbi é ler os comentários de "pessoas comuns" que pregam a eliminação total dos crackeiros.

Para ler mais:
Reportagens da Folha de São Paulo aqui.
E do Estadão aqui, aqui, aqui.

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E vamos combinar - droga não é problema de pobre.
Classe alta usa cocaína, mais refinada e de "mais qualidade", se é que podemos assim dizer,
que o crack - pedras de resíduos provenientes do refino da cocaína.
Mais barato  e, claro, para os pobres a pior "qualidade" das drogas

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Flor

Cinco pétalas repetidas destruídas pela água e esmagadas pelos pés ali na esquina. Desta vez, não apressados, mas preguiçosos após uma comemoração que merecia ao menos um dia a mais. Procurei as mais intactas, as mais aveludadas. Encontrei. Quase intacta. Cheirosa.

- Olha só... não sou só eu que gosto desta flor... – uma voz interrompeu o seguir do meu caminhar, quase na faixa de pedestres.        
- Como?
- Meu filho adorava estas florzinhas. – ela disse, com sua boca ligeiramente torta por uma paralisia sutil no canto esquerdo – A gente morava perto de Moema e ele parava na rua para pegar uma destas florzinhas para me dar. Ensinei a ele sempre escolher as do chão, nunca as da planta. Para não tirar a vida da pobre plantinha.

Mas aí veio o acidente e arrancou a vida dos braços da mãe.

- Hoje, ele teria 22 anos...

A conversa toda feita com minha coluna torcida para trás. Ela ganhou minha flor e foi embora. Eu levei outra para casa... Machucada, nem tão cheirosa, imperfeita. Porém, mais bonita. Esta aqui:


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Meu primeiro dia útil de 2012 me encheu de reflexões.
Feliz Ano Novo!